Este meu poema tem a ver com a crueldade de uma ação vivida durante a Guerra Colonial, propositadamente descrita com palavras que retratam a realidade experienciada. Mais cruel que todas as palavras duras aqui expressas foi a própria realidade vivida que jamais pode ser traduzida por palavras. Mas, na medida que ela, a realidade, pode ser expressa em palavras, então, que elas possam atingir o coração dos homens, como invectiva contra a guerra e pela fraternidade humana, em prol da paz
Poema dedicado a "ADRIANA", uma mulher preocupada com os problemas do racismo e do desamor entre os Homens.
PÁSSAROS DE FOGO ou (HELIASSALTO)
Em pássaros de fogo
chega o pelotão da morte
para impôr como jogo
a lei do mais forte.
Da orla da mata
parte fogo e metralha
e o terror se espalha
por cada cubata.
Morteiro a morteiro
há corpos caídos
em sangue esvaídos
no pó do terreiro
que serão consumidos
no horror do braseiro.
O menino escuro
indefeso chora
pertende ir-se embora
mas treme inseguro
ainda o vejo agora...
...tem as tripas de fora!...
Ainda o vejo agora
mas tento esquecê-lo
ao menino que implora
num eterno apêlo.
Era terno e puro,
mas, morreu p'lo futuro
já não pode tê-lo...
é por isso que eu juro
que tento esquecê-lo.
Eu tento esquecê-lo
mas, a toda a hora
continuo a vê-lo...
tem as tripas de fora!
E, num pranto sem fim,
é dentro de mim
que o menino chora!.........
Matos Serra, in "POEMAS DO TEMPO DE GUERRA"
Que palavras ! Esplêndido poema.
ResponderEliminarRevivi neste poema, a tarde em que pela primeira vez o ouvi, dito por si, que me deixou maravilhada. Um abraço da M.José Almada
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