quarta-feira, 16 de novembro de 2011

PARA LÁ DO BEM E DO MAL

TRATAMENTO DO ADÁGIO - "POR BEM FAZER; MAL HAVER"
Os poemas que se seguem são formas pessoais de eu intrepertar e tratar, criticamente, o adágio popular "POR BEM FAZER, MAL HAVER"
Realmente se repararmos bem, com os olhos da moral, que deve ser despretenciosa, verificamos que há nele como que um lamento pelas consequências de se ter feito o bem e, eventualmente não se receber a boa paga que se esperava; é ter-se o sentimento de que se fez um mau negócio com esse investimento a partir do qual se esperava uma boa contrapartida. Ó meus bem feitores por investimento! Tenham lá santa paciência... O bem, para ser o absoluto bem, não pode ser a perspetiva de um bom negócio com o Criador, mas, sim, uma dádiva despretenciosa e livre.
Por isso aí vão os meus dois poemas.

Primeiro Poema
Título: PARA LÁ DO BEM E DO MAL

Eis, aqui, uma questão
mais moral do que estética...
desafia a própria ética
tendo em vista a solução.
Aos domínios da razão
faz apelo, toda ela...
não sei como resolvê-la,
requer profunda atenção.

Profundamente moral,
para lá do bem ou do mal
a que faz invocação.
Ora vejamos então...
A frase que se apresenta
para nossa investigação
já não vem de todo isenta...
De uma leitura profunda
salta a lógica rotunda
que o seu autor se lamenta,
e... lamento não é isento...
e, não tem a ver com lógica...
Quando entra o sentimento
vai-se a racionalidade...
é a via axiológica
que nos dá a condição
para chegarmos à verdade.

POR BEM FAZER, MAL HAVER...
isso pode acontecer...
mas... não terá nada a ver
com a própria força do bem,
esse vai permanecer
para lá de ter ou não ter
compensação ou desdém.

Para alem de se viver
sem fazer mal a ninguém,
lutemos p'lo bem fazer
porque, isso, é fundamental
ao Homem enquanto tal,
compete ao Homem deter
a atitude moral
que conduza ao bem geral
para lá do ter ou do ser.

Por isso... é imperativo
categórico, Kantiano...
ter-se um justo objetivo
sempre Humano... Mais Humano.
Assim, não colheria sufrágio
esta expressão ou adágio
e, iria desaparecer.
Há, contudo, a não esquecer
que, se ingratidão e egoismo
se continuarem a manter
como forte catecismo...
continuaremos a ter
para lá de toda a razão
a força deste rifão:
POR BEM FAZER, MAL HAVER!.....



SEGUNDO POEMA
TÍTULO: QUEM FAZ BEM, NÂO OLHA A QUEM

Quem faz bem, não olha a quem
nem pensa em contrapartida,
só assim pode ser bem.
E, se o bem fizer, alguém...
para que o bem em seguida
se salde em belo provento,
não é bondoso, é astuto...
e, esse bem só a contento
não é o Bem absoluto;
nem, tão pouco, é bem geral...
é menos bem do que é mal
que moral não é produto...
mercantilismo moral
é regra para mau estatuto...

"Quem faz bem, não olha a quem"
e deixa rolar a vida
mais em função do bem querer
do que em ter contrapartida.
Se, é certo, que é muito justo
bem haver por bem fazer...
Fazer bem tem o seu custo,
e eu, cá por mim, não me assusto
"Por bem fazer, mal haver"!....

Matos Serra

1 comentário:

  1. Caríssimo Amigo, de que belos poemas te serves para nos convocar para a nossa humanidade! Obrigado.
    Um Abração!

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