sábado, 4 de agosto de 2012

CRONOS É UM DEUS IMPLACÁVEL

TEMA: COMENTÁRIO AO ADÁGIO POPULAR "O TEMPO QUE VAI NÃO VOLTA"

Por mais que a Cronos me roje
a pedir que não se mexa,
que me deixe estar aqui
neste bem-bom que é a vida...
Vai-se o ontem, vem o hoje
e Cronos sempre me deixa
e nem apenas sorri
na hora da despedida.

Ele vai, vem a idade
que sempre me causa medo
por poder trazer doença...
"trazer dores, decrepitude..."
e, eu, não fico à-vontade
por saber que tarde ou cedo
nunca vai haver quem vença
a que nos leva a saúde.

A que se chama velhice,
ou idade, ou duração...
cada um diz como quer,
não precisa dicionário...
a que nos traz a chatice
de colar os pés ao chão
e faça o que se fizer
passa o corpo a ser calvário.

Cronos vai e já não volta,
volta outro deus mais novo
com igual comportamento,
que tem o mesmo apelido...
O que depois nos revolta...
é que, como diz o povo,
é sempre um cavalo - o tempo
que nos deixa envelhecido.

Que haverei eu de fazer
para vencer a sucessão
de dias que vão surgindo?
Que cada qual me ajude?
Que cada um que vier
traga alguma animação
e que me deixem ir indo
com sorte, vida e saúde?

Vou tornar-me indiferente
a esta cronologia
que controla o meu destino,
e vou, sem fazer alarde,
a tentar alegremente
recorrer à poesia
e pedir... com muito tino
à morte que venha tarde.

Matos Serra, in comentários aos adágios.

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