segunda-feira, 2 de novembro de 2015

TEMA:CRÍTICA AOS ATUAIS CONCEITOS DE BELEZA (BRINCANDO) TÍTULO: PROMETEU AGRILHOADO Não se vestia aos quadrados porque a tal ilusão d'ótica que lhe dilatava os lados violava a arte gótica. Como era um pouco anafado vestia fato de riscas verticais, e bem talhado, ao gosto das odaliscas. E nunca usava chapéu, mormente o das abas largas... a cabeça andava ao léu p'ra não par'cer um lafargas. Sapato de sola alta, nunca o sapato rasteiro... só calçava na Modalfa, nunca ia ao sapateiro. Regras fixas no vestir, não fosse parecer trambolho... óculos escuros p'ra confundir porque era, um pouco, zarolho. Prometeu agrilhoado, ou bem mais que o Prometeu... que usava o cinto apertado p'ra disfarçar o pneu. P'ra manter o visual não vestia nos chineses como outro qualquer mortal... só nos Cortes Ingleses... Queria casar e, então... apostou muito na estética. resolveu a situação... casou com uma anorética. Já lá têm a seu cargo, por agora, dois pimpolhos... um é gordo, o outro é magro, ambos saíram zarolhos. Na estatura, um sai ao pai... afirmo, aqui, no poema, o outro, é á mãe que sai... magrito, mas, sem problema. Matos Serra.

domingo, 16 de agosto de 2015

POR TERRAS DE MONFORTE

            MOTE
Monforte é vila tão bela!...
Quem não sentiu? Quem não disse?
Mais que vila... É aguarela
que tem por fundo a planície.

Se viajo pela estrada,
que a demanda, e lanço a vista,
me parece projetada
no seu monte, cuja crista
é uma joia marchetada
de brancura imaculada...
travo, paro... e, fico a vê-la
e, me parece uma estrela
que irradia luz e vida.
Alentejo é terra querida...
Monforte é, vila tão bela.

E, quando sigo viagem,
nas nuances do trajeto,
se, às vezes, perco a imagem
ganho, 'inda mais, em afeto...
então, apelo à paisagem
que me traga a doce aragem
que desliza à superfície,
como se fosse a meiguice
das mãos de um deus benfazejo...
Ternuras do Alentejo...
Quem não sentiu? Quem não disse?

Que viajar é preciso
disse, algures, um bom poeta...
andar neste paraíso
é a viagem dileta...
Alentejo é um sorriso
onde eu sinto que deslizo
na textura de uma tela...
tão divina quão singela...
Terra tão bela... que, ainda,
é mais bela que a mais linda...
mais que vila, é aguarela.

E vou visitando os montes
e vendo pastar os gados...
as cachoeiras e fontes,
o terno verde dos prados...
Cruzo estradas,  passo as pontes...
Monforte! Não me recontes
lembranças da meninice!
...Posso entrar na pieguice
e sofrer meu coração...
por esta terna mansão
que tem por fundo a planície.

   Matos Serra

In, o Alentejo, as Terras e as Gentes.

domingo, 22 de junho de 2014

SAUDAÇÃO DE VERÃO

            SONETO
Se Juno segue, já, a mais de meio...
seu caminho de luz no céu sereno...
chega o calor de Apolo, ainda ameno,
que faz, de cada dia, um bom recreio.

O Júlio entra alegre e não alheio
aos alacres odores, soltos, do feno...
aproxima-se Apolo do seu pleno
e já traz o calor algum receio.

E Cronos traz Augusto, e, vem consigo
o brasido de um mundo em combustão...
cada caule, a secar, é um pavio...

De dia... cada sombra é um abrigo
à espera do consolo de um serão
na calidez, noturna do estio.

Matos Serra in, Belezas do Sul.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

ALENTEJO, SAUDADES, MÁGOAS E AFETOS

Quantas águas e outras águas
passaram p'las tuas pontes...
e quantas mágoas... e mágoas...
pelos teus montes e fráguas...
Por quantas fráguas e montes!

Quantos trabalhos e dias
e quantas leiras aradas...
Quantas dores e alegrias...
quantas lutas e ousadias...
Quantas frias madrugadas!

Quantos os contos contados
em descuidados serões...
Óh! nos meus tempos passados...
quantos toques de finados...
Doridas recordações!

Quanta gente acompanhei
por quantas ruas e praças...
Quantos? são tantos... nem sei,
nos deixaram e chorei...
com quem antes troquei graças!

Quantos verões e primaveras
que se foram e tornaram
em chegadas de outras eras...
Quantos anseios e quimeras
em outonos que findaram!

Quantos bardos te cantaram...
quantos mais te hão-de cantar...
Quantos versos nos deixaram
poetas que conjugaram
as formas do verbo amar!...

Meu Alentejo de amores,
de afetos e amizades...
de graças, risos e flores...
de mágoas, penas e dores
e tantas, tantas... saudades!

Quantas folhas que tombaram
para virem, de novo, as flores...
Quantos invernos passaram...
quantos frios enregelaram
os corpos, com seus rigores

Quantos rebanhos pastaram
pelas campinas e prados...
Quantos ventos que sopraram,
quantas flautas que tocaram
os pastores tangendo os gados...

Quanto baile... quanta festa...
divertidos arraiais?
Podem chamar-te modesta...
Para mim... não há como esta...
Terra dos meus ancestrais!....

Quantas belas romarias
aonde se enamoraram
quantos Josés e Marias?
E quantas as nostalgias
desses tempos que passaram...

Pára... pára, coração...
ou, então... chora à vontade.
Mas... basta de invocação
desses tempos que lá vão...
Que me matas de saudade!

 Matos Serra in, Alentejo, as Terras e as Gentes.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013


 
ENCANTAMENTO  E… SAUDADE.
          Mote de Rosa Pires          
MOTE

És vida, poema e cor

Que sais da terra fresquinha,

Espelho, pureza, esplendor,

Fonte da vila, rainha.

 

Ao sair para Vaiamonte,

lá em baixo, junto à ponte,

paro e ouço em meu redor

um eco que vem do monte

e diz, à velhinha fonte,

és vida, poema e cor.

 

 

Imita uma voz magoada,

como de moura encantada

que, em cada dia, à tardinha,

diz à fonte emocionada:

Tu, és, vida renovada,

que sais da terra fresquinha.

 

 

Eu, ao ouvir essa voz,

lembro meus pais e avós

que sempre iam ao sol-pôr

e, levavam-nos – a nós…

p’ra ver, com eles, a sós,

espelho, pureza, esplendor.

 

 

Quando, eu, lá ia, sozinho…

levava o meu pucarinho

pintado, com a florinha,

que eu enchia de mansinho

e murmurava baixinho     

fonte da vila, rainha.

 

Matos Serra

 

 

                          
              RAINHA DAS FONTES
 (Mote de Rosa Pires – Poetisa de Monforte)

MOTE

És vida, poema e cor,

Que sais da terra fresquinha,

Espelho, pureza, esplendor,

Fonte da vila, rainha.

 

Das belezas desta vila

antiga, simples, modesta…

repositório que nos resta

da sua alma tranquila.

Tens o alo redentor

da vizinhança dos montes,

és a rainha das fontes,

és vida, poema e cor.

 

Um manancial de energia,

que as gentes vinham buscar

para usarem no seu lar,

p’ró vigor do dia a dia.

Em tempos, quando eu cá vinha,

voltava forte na ida,

porque, tu, és força e vida

que sais da terra fresquinha.

 

Tu suavizas as almas

e lavas penas e mágoas,

jorra paz das tuas águas

que cantam nas tardes calmas.

O teu som inspirador,

gemendo na fresca aragem,

é, no quadro da paisagem,

espelho, pureza, esplendor.

 

Foste-me porto de abrigo

onde mitiguei agruras,

pelas tuas águas puras

vinha sempre ter contigo.

E, cada vez que cá vinha,

averbava um bom momento…

Foste-me força e alento…

Fonte da Vila, rainha  !

                                                    Matos Serra 

    RECORDAÇÕES

Existe junto à vila de Monforte, minha terra, uma fonte velhinha como os séculos, que nos tempos passados fornecia água à população e a que os antigos atribuíam propriedades curativas.

A velhinha fonte está envolvida por um ambiente natural, bucólico e muito acolhedor e por ter sido, durante séculos, um manancial para os habitantes, perde-se na noite dos tempos a sua designação carregada de um profundo sentimento – “FONTE DA VILA”.

Para completar o quadro afetivo, o poema que segue radica no mote de uma poetisa minha conterrânea, “ROSA PIRES, que, como eu, se deixou inspirar por esse quadro bucólico que em tempos foi para mim lugar de constantes peregrinações

 

MOTE

 

És vida, poema e cor,

Que sais da terra fresquinha,

Espelho, pureza, esplendor,

Fonte da vila, rainha.

 

Aqui, onde, em tempos idos,

vinha beber tuas águas,

em silêncios recolhidos

lavava penas e mágoas…

Entre as urzes e as fráguas

eu sentia em meu redor

o silêncio redentor

das aragens destes montes…

Minha rainha das fontes…

És vida, poema e cor!...

 

Fonte, que és, da nostalgia

dos tempos da minha infância,

da água, enquanto caía,

ouço, ainda, a ressonância…

Sinto a suave fragrância

da natureza vizinha

e ouço de cada avezinha

um canto de terna calma…

Ternura doce p’rá alma

Que sais da terra fresquinha.

 

Recordo, da juventude,

o meu tempo das paixões,

em que, a água, era a virtude

que inundava os corações.

Em quantas ocasiões

eu fui colher uma flor…

para que a jura de amor

fosse solene e sentida…

e tu, fonte… eras ermida,

Espelho, pureza, esplendor.

 

 

 

 

Meu quadro vivo, sem preço…

ex-libris da frescura,

longe de ti não me esqueço…

mas, aqui… ardo em ternura.

Ao beber a água pura

a doçura me acarinha…

logo de mim se avizinha

uma onda de emoções…

Éden de recordações…

Fonte da vila, rainha.

 

 

Matos Serra in, Alentejo, suas belezas, suas terras e suas gentes.