domingo, 31 de julho de 2011

AGORA UM PEQUENO INTERVALO NA TEMÁTICA ALENTEJANA

A BUSCA BLOGONÁUTICA DA POESIA


Entrei aqui num blog um certo dia,
andava num passeio p'la blogosfera...
vim descobrir o espaço da poesia
para mim não passava de quimera;

estava para lá da fantasia.
Seguindo um raio de sol de primavera
procurava a beleza e a magia.
Encontrá-la, assim, não estava à espera.

Vim descobrir num blog um certo Zé
e outros que na prosa deitam rima.
Óh... quanto por aí anda disperso!

Com tanta maravilha aqui ao pé
e tanta poesia que nos mima!...
Este mundo encantado em prosa e verso! Matos Serra

PRIMAVERA ALENTEJANA

NATUREZA EM FESTA

Entre a realidade e a quimera
vestiu-se a Natureza de mil cores,
num pacto entre as aves e as flores
parece anunciar-se nova era;

nos prados é a vida que se gera,
nos bosques são alados seus cantores,
porque em março é o tempo dos amores,
ouço cantar o cuco - é Primavera.

Se em cada ano o quadro se renova
e se veste de novo a natureza,
os faunos lançam cantos na floresta...

é "ele" que anuncia a boa nova,
o cuco é pregoeiro desta certeza:
"JÁ TODA A NATUREZA ESTÁ EM FESTA".

Matos Serra

PRIMAVERA ALENTEJANA

ENGANADA ANDA A "FELOSA"

Mês de Março! É o tempo dos amores,
ouço as canções p'las sebes e silvados,
explodem em cor os campos e os prados
e brotam dos valados rios de cores.

Ensaiam os seus cantos sedutores,
mostrando-se gentis enamorados,
afinando ao limite os seus trinados
os alados e gentis conquistadores.

No interior do bosque canta o cuco,
com seu canto enganada anda a "felosa",
combativos o gaio e o picanço...

E... todo o "povo alado" anda maluco
com esta novidade pavorosa:
O CUCO ANDA A TRAMAR-NOS O DESCANSO.

Matos Serra

NA CALIDEZ DA PLANURA - UMA FORMA LIGEIRAMENTE DIFERENTE DO MESMO QUADRO ALENTEJANO

ALMA DE POETA E DE PASTOR

Ao lado das ovelhas no acarro,
fruindo a companhia do rafeiro,
tenho junto os alforges mais o tarro,
a corna do conduto e o caldeiro.

Vendo as rôlas pousadas no chaparro
arrolando o seu canto prazenteiro,
a água do barril em fresco barro
pendurado do tronco do sobreiro.

Este é o ambiente donde emana
minha alma de poeta e de pastor,
a fonte promotora dos meus versos...

Calidez da planura alentejana,
meu idílio de graças e de amor
aonde antigos sonhos são imersos.

Matos Serra

TEMA: SER ALENTEJANO

DOÇURA DA ALMA ALENTEJANA

Passa tão doce a brisa p'los trigais
que vemos ondular suavemente...
à calma e à ternura tão presente
vêm juntar-se os lindos madrigais

dos alados cantores pelos beirais.
Perante esta magia que se sente
e nos modela a alma lentamente,
nas colinas passeiam-se os moirais;

calmos e com seu ar contemplativo
parecem respirar flocos de azul...
a meia esfera cobre a Terra plana.

Brioso alentejano... O ar altivo
é a capa que cobre aqui no Sul
a doçura da alma alentejana.

Matos Serra

JOGOS RADICAIS DE (ANTES DE LISBOA SER LISBOA)

A TRADIÇÃO - ESPECIALMENTE
NO ALENTEJO E RIBATEJO

Desde p'ra lá dos tempos de Altamira,
bem antes de Lisboa ser Lisboa
e dos traços rupestres de Foz Coa,
que o Homem se diverte e que delira,

que ousa, que se arrisca e que se atira,
se fere, se fragiliza e se magoa,
às vezes vai p'lo ar e quase voa,
mas... frente à fera brava não se vira.

E, por vezes, o medo é assombroso,
mas... medo de ter medo ainda é mais...
é preciso mostrar-se corajoso.

Já bem antes dos "JOGOS RADICAIS"
a tourada era um jogo magestoso
para o ego dos nossos ancestrais.

Matos Serra

sábado, 30 de julho de 2011

O TOURO BRAVO E A TOURADA (TEMA)

Escrevo este soneto com algum pedido de perdão das más palavras. Poesia é poesia... e, portanto... lá vai disto Evaristo.

TÍTULO: FILHOS DA NATUREZA

Os animais cornudos, salvo seja,
não apenas cornudos virtuais...
muito embora se afirmem na peleja
são humildes e ternos - naturais.

Filhos da natureza que os bafeja
na terna comunhão dos matagais,
transmitem a ternura a quem os veja
picados pela mão dos racionais.

Em confrontos, embora desiguais,
lh'impondo violentos rituais
lhe lançam desafios que são bravatas...

aos humildes e ternos animais
querendo à força mostrar-se seus iguais
num duelo sangrento a quatro patas.

Matos Serra

A ODISSEIA DO PÃO

Para ter o seu pão de cada dia
o Homem dispendeu 'sforços insanos,
muitos duros trabalhos, muitos planos
e muita ousada luta e teimosia...

E, se na velha Europa já havia
a mágica gramínea há dez mil anos,
foi p'lo 'sforço inaudito dos humanos
e não por mera sorte ou por magia.

E, se a luz que nos vem do oriente
é coisa que nos excede e ultrapassa,
que do Céu se recebe e é de graça...

O pão... consagra o nosso esforço ingente,
é mais do que um troféu ou uma taça...
O PÃO... É A VITÓRIA QUE SE AMASSA!...

Matos Serra

ALENTEJO DO MEU PASSADO

As pueris manhãs, tardes amenas,
de leves, sossegadas primaveras,
Alentejo de sonhos e quimeras
de tardes pastoris, noites serenas,

são celestes harpas ou avenas
que eu ouço do passado, de outras eras...
As saudades atacam como feras,
no coração registo quantas penas!

E... quantas me ficaram na lembrança
das ternas brincadeiras de criança,
então um cavaleiro da alegria

que fazia do sonho a sua lança;
eu livre na planície era um Bonanza,
pequeno grande-heroi da pradaria!

Matos Serra

BELEZAS DO ALENTEJO - UM VIVER SERENO E CALMO

Trago em mim o aroma dos trigais,
o ar fresco dos vales e dos montes,
murmúrios das cachoeiras e das fontes
com a calma das tardes outonais.

um rouxinol cantando madrigais
fixado em luminosos horizontes,
robustez dos castelos e das pontes
e a alegria das horas matinais.

e trago no meu peito um sol ardente
que se atenua às horas do poente
se a terna solidão me invade a alma,

vagueio no mar do sul serenamente,
o Alentejo ameno me consente
a força de viver serena e calma.

Matos Serra

PORTUGAL AO CANTAR DOS CUCOS

FÁBULA DOS CUCOS

Nesta selva de "cucos predadores"
soçobra a passarada mais pequena,
"eles" vogam no céu como condores
pairando lá no alto em vida amena.


Alheios a misérias e suores
que aos outros sacrifica e empequena
degradaram os ninhos dos menores
arrotando fortuna e vida plena.


É o cantar dos "cucos" na floresta,
salve-se deste bando quem puder
da selva dominada pelos cucos...


que a fuga é a esperança que nos resta,
por mim... que nela fique quem quiser
porque eu... não fico aqui sem os trabucos.

Matos Serra

ALENTEJO - UMA CRISE DE DESEMPREGO

Cegonha, a pernalta sedutora,
senhora das planícies e dos prados,
rainha magestosa dos valados,
a terna mensageira voadora,

já não trabalha tanto como outrora,
passa dias alegres, descuidados,
nem a vemos andar pelos telhados
a levar a cestinha encantadora.


A cegonha ficou desempregada
a nova geração está empenhada
no gostoso fabrico artesanal.


Os bebés já não vêm lá de França,
a nova geração tem mais esperança
num novo e bom produto nacional.

Matos Serra

sexta-feira, 29 de julho de 2011

BELEZAS DO ALENTEJO - AS CEGONHAS

DANÇANDO NA BRISA LEVE

Passam rasando o vale e lá vão indo,
pequenas formações, como esquadrilhas,
vão ao sabor do vento, as andarilhas,
gerando, contra o monte, um quadro lindo.


Dançam na brisa leve e vão subindo,
vogando, à frente, as mães guiam as filhas,
quando alguma se atrasa fica a milhas
e, faz parecer o bando desavindo.


Lá longe já pousaram as primeiras,
cumprindo o seu papel de mensageiras,
num eterno retorno da beleza.


São senhoras do vale, e, delicadas,
já passeiam alegres, descuidadas,
e tornaram mais bela a natureza.

Matos Serra

terça-feira, 26 de julho de 2011

BELEZAS DO ALENTEJO. TEMA O TOURO. TÍTULO: PARENTE DOS AUROQUES

PARENTE DOS AUROQUES - SONETO


Parente dos auroques e bisontes,
além doutros chifrudos animais,
cruzado com cornudos mastodontes,
descendente de velhos ancestrais.


Invocado em gravuras magistrais,
nas pedras registado, e, noutras fontes...
nas rupestres, minoicas e outras mais.
Liberto nas planícies e nos montes.


É lenda permanente que nos soa,
nos traços de Altamira ou de Foz Côa,
e, desde o mundo antigo ao atual.


Foi fascínio de Gregos e Romanos,
na decorrente história dos humanos
foi sempre um elemento cultural.

Matos Serra

segunda-feira, 25 de julho de 2011

BELEZAS DO ALENTEJO - O Bosque Em Alvoroço

TEMA: AO CANTAR DO CUCO
EXPLICAÇÃO SOBRE A ABORDAGEM DO TEMA:

Dizem estudos sobre a ornitologia, e eu constatei, enquanto guardador de rebanhos e camponês observador, a veracidade sobre a conclusão desses estudos, quando apascentava cabras nos chaparrais da Ribeira do Freixo, que o cuco, depois de depredar os ninhos de outras aves mais pequenas, comendo-lhes os ovos, coloca, nesses ninhos depredados, a sua própria postura que abandona a um processo levado a cabo por essas aves que lhe alimentam e criam os filhos, sendo a "felosa" a que mais costuma deixar-se enganar, enquanto que, por exemplo, o gaio e o picanço, ao que eu próprio constatei, lutam denodadamente contra o cuco, pelas suas posturas e pela criação e defesa da prole, outras aves de pequeno porte mas de grande engenho e esperteza, como é o caso do pintassilgo, nidificam em ramos muito altos e flexíveis onde o cuco não se aventura, daí o sentido do meu poema e esta explicação sobre História Natural observada em direto e in locu, enquanto pastor, observador e poeta.
Por outro lado, a sabedoria popular, para os casos em que se constata que nos casais humanos o homem é preguiçoso e a mulher muito ativa e empenhada na provisão do lar, criou o seguinte adágio: "ANDA A FELOSA A ACARRETAR COMER P'RÓ CUCO".

O BOSQUE EM ALVOROÇO - SONETO À LAIA DE FÁBULA

Enquanto canta o cuco diz o gaio:
já chegou o malandro, preguiçoso...
que vamos nós fazer? Ave dum raio...
eu nunca vi um tipo tão manhoso.


O pintassilgo diz: Daqui não saio!
Vou procurar o ramo mais ventoso,
que eu já me acostumei, de lá não caio
e o cuco é grandalhão mas é medroso.


Já começou no bosque o alvoroço,
e, quando o cuco emite as suas notas
chilreia insegura a passarada;

mas, a felosa diz: eu cá, não ouço...
enquanto alguns vão dando cordas às botas
vai ficar p'ró martírio, a desgraçada!

Matos Serra

ALENTEJO - A VOZ DA PLANÍCIE

Som de frescas brisas, searas ondulantes,
alegre a cotovia cantando nos trigais,
meigo o rouxinol deixando os madrigais
no ciciar do vento em notas sibilantes.

Os trinados sinceros dos alados amantes,
o cantar da cigarra em tardes estivais,
da música com versos em tratos conjugais
neste Alentejo ardente em festas e descantes!...

Retiraste à natureza a voz dos elementos
p'ra dares à melodia uma expressão tão pura...
o teu lirismo é fonte d'água cristalina

'spalhada por aí aos quatro ventos...
invade o nosso peito em onda de ternura
porque a voz da planície é como a voz divina!...

Matos Serra

BELEZAS DO ALENTEJO - O CLARO-AZUL DO ALENTEJO

Os rios correm lentos no seu leito
encaminhando as águas romançosas,
vão percorrendo as curvas caprichosas;
mansamente as conduzem com seu jeito

pachorrento e calmo, e, como um 'streito
vão circulando em linhas sinuosas
da planície e colinas donairosas...
...Deixam marcas no Homem, seu sujeito.


Contemplativa a calma da planície
é que nos mostra clara a superfície
das coisas e dos seres que tem o Sul...

Esta forma de ser garbosa e calma
da Terra que modela a nossa alma,
Alentejo vogando em Claro-azul.

Matos Serra

BELEZAS DO ALENTEJO - Retalhos de Uma Vida de Pastor

Há no quadro campestre que vos narro
um tigrado rafeiro e uns ovinos,
um cajado, uns alforges mais um tarro,
um coxo de cortiça p'rós caninos,

um poço, um chafariz e um chaparro,
onde alados cantores dispersam hinos...
Pode não ser o quadro mais bizarro...
vertente promotora de destinos...

É o meu ambiente onde se inscreve,
no calor da planura alentejana,
como na cor da tela dum pintor...

a natureza pura a que se deve
a aura ruralista donde emana
minha alma de poeta e de pastor.

Matos Serra

BELEZAS DO ALENTEJO - A Chegada das Cegonhas

Em voos rasantes passam vale acima,
e vão pousar, lá longe, sobre o prado...
compondo a natureza que se anima
e se veste de um fundo salpicado
que espalha notas brancas p'lo valado.
Eu, fico horas olhando a obra prima,
um quadro em movimento compassado,
no vale que se anima ou desanima.

E, fica entrecruzado o fundo azul,
assim... como uma tela em movimento,
deslumbrante de magia e de beleza...

As cegonhas estão chegando ao Sul.
Cada vale ou caqmpina toma alento
com o novo multicor da natureza.

Matos Serra