quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

ALENTEJO, SAUDADES, MÁGOAS E AFETOS

Quantas águas e outras águas
passaram p'las tuas pontes...
e quantas mágoas... e mágoas...
pelos teus montes e fráguas...
Por quantas fráguas e montes!

Quantos trabalhos e dias
e quantas leiras aradas...
Quantas dores e alegrias...
quantas lutas e ousadias...
Quantas frias madrugadas!

Quantos os contos contados
em descuidados serões...
Óh! nos meus tempos passados...
quantos toques de finados...
Doridas recordações!

Quanta gente acompanhei
por quantas ruas e praças...
Quantos? são tantos... nem sei,
nos deixaram e chorei...
com quem antes troquei graças!

Quantos verões e primaveras
que se foram e tornaram
em chegadas de outras eras...
Quantos anseios e quimeras
em outonos que findaram!

Quantos bardos te cantaram...
quantos mais te hão-de cantar...
Quantos versos nos deixaram
poetas que conjugaram
as formas do verbo amar!...

Meu Alentejo de amores,
de afetos e amizades...
de graças, risos e flores...
de mágoas, penas e dores
e tantas, tantas... saudades!

Quantas folhas que tombaram
para virem, de novo, as flores...
Quantos invernos passaram...
quantos frios enregelaram
os corpos, com seus rigores

Quantos rebanhos pastaram
pelas campinas e prados...
Quantos ventos que sopraram,
quantas flautas que tocaram
os pastores tangendo os gados...

Quanto baile... quanta festa...
divertidos arraiais?
Podem chamar-te modesta...
Para mim... não há como esta...
Terra dos meus ancestrais!....

Quantas belas romarias
aonde se enamoraram
quantos Josés e Marias?
E quantas as nostalgias
desses tempos que passaram...

Pára... pára, coração...
ou, então... chora à vontade.
Mas... basta de invocação
desses tempos que lá vão...
Que me matas de saudade!

 Matos Serra in, Alentejo, as Terras e as Gentes.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013


 
ENCANTAMENTO  E… SAUDADE.
          Mote de Rosa Pires          
MOTE

És vida, poema e cor

Que sais da terra fresquinha,

Espelho, pureza, esplendor,

Fonte da vila, rainha.

 

Ao sair para Vaiamonte,

lá em baixo, junto à ponte,

paro e ouço em meu redor

um eco que vem do monte

e diz, à velhinha fonte,

és vida, poema e cor.

 

 

Imita uma voz magoada,

como de moura encantada

que, em cada dia, à tardinha,

diz à fonte emocionada:

Tu, és, vida renovada,

que sais da terra fresquinha.

 

 

Eu, ao ouvir essa voz,

lembro meus pais e avós

que sempre iam ao sol-pôr

e, levavam-nos – a nós…

p’ra ver, com eles, a sós,

espelho, pureza, esplendor.

 

 

Quando, eu, lá ia, sozinho…

levava o meu pucarinho

pintado, com a florinha,

que eu enchia de mansinho

e murmurava baixinho     

fonte da vila, rainha.

 

Matos Serra

 

 

                          
              RAINHA DAS FONTES
 (Mote de Rosa Pires – Poetisa de Monforte)

MOTE

És vida, poema e cor,

Que sais da terra fresquinha,

Espelho, pureza, esplendor,

Fonte da vila, rainha.

 

Das belezas desta vila

antiga, simples, modesta…

repositório que nos resta

da sua alma tranquila.

Tens o alo redentor

da vizinhança dos montes,

és a rainha das fontes,

és vida, poema e cor.

 

Um manancial de energia,

que as gentes vinham buscar

para usarem no seu lar,

p’ró vigor do dia a dia.

Em tempos, quando eu cá vinha,

voltava forte na ida,

porque, tu, és força e vida

que sais da terra fresquinha.

 

Tu suavizas as almas

e lavas penas e mágoas,

jorra paz das tuas águas

que cantam nas tardes calmas.

O teu som inspirador,

gemendo na fresca aragem,

é, no quadro da paisagem,

espelho, pureza, esplendor.

 

Foste-me porto de abrigo

onde mitiguei agruras,

pelas tuas águas puras

vinha sempre ter contigo.

E, cada vez que cá vinha,

averbava um bom momento…

Foste-me força e alento…

Fonte da Vila, rainha  !

                                                    Matos Serra 

    RECORDAÇÕES

Existe junto à vila de Monforte, minha terra, uma fonte velhinha como os séculos, que nos tempos passados fornecia água à população e a que os antigos atribuíam propriedades curativas.

A velhinha fonte está envolvida por um ambiente natural, bucólico e muito acolhedor e por ter sido, durante séculos, um manancial para os habitantes, perde-se na noite dos tempos a sua designação carregada de um profundo sentimento – “FONTE DA VILA”.

Para completar o quadro afetivo, o poema que segue radica no mote de uma poetisa minha conterrânea, “ROSA PIRES, que, como eu, se deixou inspirar por esse quadro bucólico que em tempos foi para mim lugar de constantes peregrinações

 

MOTE

 

És vida, poema e cor,

Que sais da terra fresquinha,

Espelho, pureza, esplendor,

Fonte da vila, rainha.

 

Aqui, onde, em tempos idos,

vinha beber tuas águas,

em silêncios recolhidos

lavava penas e mágoas…

Entre as urzes e as fráguas

eu sentia em meu redor

o silêncio redentor

das aragens destes montes…

Minha rainha das fontes…

És vida, poema e cor!...

 

Fonte, que és, da nostalgia

dos tempos da minha infância,

da água, enquanto caía,

ouço, ainda, a ressonância…

Sinto a suave fragrância

da natureza vizinha

e ouço de cada avezinha

um canto de terna calma…

Ternura doce p’rá alma

Que sais da terra fresquinha.

 

Recordo, da juventude,

o meu tempo das paixões,

em que, a água, era a virtude

que inundava os corações.

Em quantas ocasiões

eu fui colher uma flor…

para que a jura de amor

fosse solene e sentida…

e tu, fonte… eras ermida,

Espelho, pureza, esplendor.

 

 

 

 

Meu quadro vivo, sem preço…

ex-libris da frescura,

longe de ti não me esqueço…

mas, aqui… ardo em ternura.

Ao beber a água pura

a doçura me acarinha…

logo de mim se avizinha

uma onda de emoções…

Éden de recordações…

Fonte da vila, rainha.

 

 

Matos Serra in, Alentejo, suas belezas, suas terras e suas gentes.