Quantas águas e outras águas
passaram p'las tuas pontes...
e quantas mágoas... e mágoas...
pelos teus montes e fráguas...
Por quantas fráguas e montes!
Quantos trabalhos e dias
e quantas leiras aradas...
Quantas dores e alegrias...
quantas lutas e ousadias...
Quantas frias madrugadas!
Quantos os contos contados
em descuidados serões...
Óh! nos meus tempos passados...
quantos toques de finados...
Doridas recordações!
Quanta gente acompanhei
por quantas ruas e praças...
Quantos? são tantos... nem sei,
nos deixaram e chorei...
com quem antes troquei graças!
Quantos verões e primaveras
que se foram e tornaram
em chegadas de outras eras...
Quantos anseios e quimeras
em outonos que findaram!
Quantos bardos te cantaram...
quantos mais te hão-de cantar...
Quantos versos nos deixaram
poetas que conjugaram
as formas do verbo amar!...
Meu Alentejo de amores,
de afetos e amizades...
de graças, risos e flores...
de mágoas, penas e dores
e tantas, tantas... saudades!
Quantas folhas que tombaram
para virem, de novo, as flores...
Quantos invernos passaram...
quantos frios enregelaram
os corpos, com seus rigores
Quantos rebanhos pastaram
pelas campinas e prados...
Quantos ventos que sopraram,
quantas flautas que tocaram
os pastores tangendo os gados...
Quanto baile... quanta festa...
divertidos arraiais?
Podem chamar-te modesta...
Para mim... não há como esta...
Terra dos meus ancestrais!....
Quantas belas romarias
aonde se enamoraram
quantos Josés e Marias?
E quantas as nostalgias
desses tempos que passaram...
Pára... pára, coração...
ou, então... chora à vontade.
Mas... basta de invocação
desses tempos que lá vão...
Que me matas de saudade!
Matos Serra in, Alentejo, as Terras e as Gentes.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Mote de Rosa Pires
MOTE
És
vida, poema e cor
Que
sais da terra fresquinha,
Espelho,
pureza, esplendor,
Fonte
da vila, rainha.
Ao
sair para Vaiamonte,
lá
em baixo, junto à ponte,
paro
e ouço em meu redor
um
eco que vem do monte
e
diz, à velhinha fonte,
és
vida, poema e cor.
Imita
uma voz magoada,
como
de moura encantada
que,
em cada dia, à tardinha,
diz
à fonte emocionada:
Tu,
és, vida renovada,
que
sais da terra fresquinha.
Eu,
ao ouvir essa voz,
lembro
meus pais e avós
que
sempre iam ao sol-pôr
e,
levavam-nos – a nós…
p’ra
ver, com eles, a sós,
espelho,
pureza, esplendor.
Quando,
eu, lá ia, sozinho…
levava
o meu pucarinho
pintado,
com a florinha,
que
eu enchia de mansinho
e
murmurava baixinho
fonte
da vila, rainha.
Matos
Serra
MOTE
És vida, poema e cor,
Que sais da terra fresquinha,
Espelho, pureza, esplendor,
Fonte da vila, rainha.
Das belezas desta vila
antiga, simples, modesta…
repositório que nos resta
da sua alma tranquila.
Tens o alo redentor
da vizinhança dos montes,
és a rainha das fontes,
és vida, poema e cor.
Um manancial de energia,
que as gentes vinham buscar
para usarem no seu lar,
p’ró vigor do dia a dia.
Em tempos, quando eu cá vinha,
voltava forte na ida,
porque, tu, és força e vida
que sais da terra fresquinha.
Tu suavizas as almas
e lavas penas e mágoas,
jorra paz das tuas águas
que cantam nas tardes calmas.
O teu som inspirador,
gemendo na fresca aragem,
é, no quadro da paisagem,
espelho, pureza, esplendor.
Foste-me porto de abrigo
onde mitiguei agruras,
pelas tuas águas puras
vinha sempre ter contigo.
E, cada vez que cá vinha,
averbava um bom momento…
Foste-me força e alento…
Fonte da Vila, rainha
!
Matos Serra
RECORDAÇÕES
Existe
junto à vila de Monforte, minha terra, uma fonte velhinha como os séculos, que
nos tempos passados fornecia água à população e a que os antigos atribuíam
propriedades curativas.
A
velhinha fonte está envolvida por um ambiente natural, bucólico e muito
acolhedor e por ter sido, durante séculos, um manancial para os habitantes,
perde-se na noite dos tempos a sua designação carregada de um profundo
sentimento – “FONTE DA VILA”.
Para
completar o quadro afetivo, o poema que segue radica no mote de uma poetisa
minha conterrânea, “ROSA PIRES, que, como eu, se deixou inspirar por esse
quadro bucólico que em tempos foi para mim lugar de constantes peregrinações
MOTE
És vida, poema e cor,
Que sais da terra fresquinha,
Espelho, pureza, esplendor,
Fonte da vila, rainha.
Aqui, onde, em tempos idos,
vinha beber tuas águas,
em silêncios recolhidos
lavava penas e mágoas…
Entre as urzes e as fráguas
eu sentia em meu redor
o silêncio redentor
das aragens destes montes…
Minha rainha das fontes…
És vida, poema e cor!...
Fonte, que és, da nostalgia
dos tempos da minha infância,
da água, enquanto caía,
ouço, ainda, a ressonância…
Sinto a suave fragrância
da natureza vizinha
e ouço de cada avezinha
um canto de terna calma…
Ternura doce p’rá alma
Que sais da terra fresquinha.
Recordo, da juventude,
o meu tempo das paixões,
em que, a água, era a virtude
que inundava os corações.
Em quantas ocasiões
eu fui colher uma flor…
para que a jura de amor
fosse solene e sentida…
e tu, fonte… eras ermida,
Espelho, pureza, esplendor.
Meu quadro vivo, sem preço…
ex-libris da frescura,
longe de ti não me esqueço…
mas, aqui… ardo em ternura.
Ao beber a água pura
a doçura me acarinha…
logo de mim se avizinha
uma onda de emoções…
Éden de recordações…
Fonte da vila, rainha.
Matos Serra in, Alentejo, suas belezas, suas
terras e suas gentes.
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