terça-feira, 22 de novembro de 2011

AGORA VOLTO AO TEMA DO AMOR

O poema que vou transcrever compu-lo há cinquenta anos, no início da minha primeira comissão na guerra colonial para enviar numa carta, à minha namorada de então, e que, continuando a ser a namorada é também, desde há quarenta e seis anos a esposa e avó dos meus netos.
Na altura em que escrevi este poema, num postal figurando aves voando por entre nuvens, e que devia enviar juntamente com uma carta, eu tinha regressado de uma missão de dois meses de combates muito duros no Norte de Angola, e estava descansando uns dias na cidade de Luanda.
Andava lendo um livro, O HOMEM ESSE DESCONHECIDO do Alexis Carrel; antes de escrever a carta, como já tinha escrito o poema guardei-o, entretanto, no livro, não sei porque razão foi ele parar entre a lombada e a capa de proteção... Quando escrevi a carta e quis encontrá-lo para o enviar junto, não mais o encontrei, escrevi, depois outro poema que enviei. Este só foi encontrado quarenta anos mais tarde, quando, na minha quinta de Cabeço de Vide voltei, de novo, à leitura do belo livro de Carrel.
Esta é a história do poema que, como disse, tinha escrito num postal figurando aves e, por isso o intitulei PENAS (no sentido de saudades, essas saudades sentidas no tempo da guerra e que, vieram a ser motivo de muita criação poética)

PENAS

Estas aves passam breves
por entre nuvens suaves,
as suas penas são leves,
as minhas... são penas graves.

Lá vão, como etéreas naves,
cheias de beleza e cor;
as suas? São penas d'aves;
as minhas? Penas de amor.

Que não são penas pequenas...
mas... não servem p'ra voar.
Que pena... Que as minhas penas
não me dão p'ra regressar!...

Se eu grandes penas tivesse
para voar pelo céu fora
não sofria, ó se eu pudesse
estar contigo a toda a hora!...

Mas... minhas penas não dão
para voar em liberdade,
porque as minhas penas são...
penas de amor e saudade!...


Matos Serra in
poemas do tempo de guerra

Sem comentários:

Enviar um comentário