quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O FADO - UM PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE

Os cinco poemas que se seguem são dedicados ao fado e são uma forma de eu estar solidário com a proposta da sua candidatura a património imaterial e cultural da Humanidade. Organizei esta sequência de versos sobre este tema, tão mobilizador da atual atenção dos portugueses, até por uma questão de nos manter, de algum modo, um pouco do nosso astral menos deprimido pelos problemas da crise que nos afeta na hora presente. Organizei o processo criativo à volta de um mote, que é uma quadrado nosso cancioneiro oral e popular. São poemas simples, um deles pretende ser uma invocação da nossa grande fadista, Amália Rodrigues, e já mereceu nuns jogos florais, um prémio de poesia.

MOTE
Numa guitarra peguei
Só para cantar o fado
Não pude cantar, chorei
Por me lembrar do passado

PRIMEIRO POEMA
TÍTULO: A PROCURA DAS ORIGENS

Quis saber do nascimento
fui procurar as raizes
do lugar e do momento
sondei tempos e países.
Fui às cantigas de amigo
e ao Golfo da Biscaia,
à cantiga da garvaia
e às ondas do mar de Vigo.
Nas cantigas provençais
nosso fado procurei,
ouvi aedos, jograis...
Numa guitarra peguei

Fui aos versos de Camões
e às cantigas de amor
e li as composições
do poeta lavrador
que foi rei de Portugal.
Até os amores de Inês
visitei mais de uma vez...
Para constatar afinal
onde em algum manuscrito
estivesse codificado;
pus-me em campo, num conflito,
Só para cantar o fado.

Fiz viagens muitas mil
por savanas e sertões:
Índia, África, Brasil...
à procura de canções.
Visitei terras de Angola,
não faltou lugar nenhum,
ouvi versos em lundum
com batuques e viola.
A sentimentalidade
portuguesa investiguei,
muitas vezes com saudade
Não pude cantar, chorei.

Fui aos lugares mais adversos,
a docas, becos e portos,
rebusquei prosas e versos,
escritores, poetas mortos...
Li escritos de viagens,
aventuras e conquistas
donde surgiram fadistas
nos tempos das marinhagens.
Ao ler, no grande Reis Pereira, (A)
o livro que é um tratado,
chorei, à minha maneira
Por me lembrar do passado.

(A) José Maria dos Reis Pereira de Pseudónimo "JOSÉ RÉGIO.

Matos Serra

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