segunda-feira, 14 de novembro de 2011

QUEM CANTA, SEU MAL ESPANTA

OS TRÊS POEMAS QUE SE SEGUEM SÃO TRÊS FORMAS DE ABORDAGEM SOBRE
O ADÁGIO POPULAR " QUEM CANTA, SEU MAL ESPANTA"

1-º POEMA COM O ASPETO FORMAL - SONETO
TÍTULO: COM CANTIGAS E POEMAS

Adoça a tua vida com cantigas
e com gestos ligeiros e triviais;
Repara na ternura das espigas
e na cor das papoilas dos trigais.

Escuta as ternas notas ancestrais
a fazerem lembrar lendas antigas,
...a chuva traz momentos ideais
e combate os esforços e fadigas.

Dá vida à doçura dos poemas
e dos timbres espontâneos, naturais...
faz de cada momento um tempo novo...

Dilui as amarguras e dilemas,
musica se puderes os próprios ais...
Quem canta, o mal espanta, diz o povo!

Matos Serra

2-º POEMA : O CANTO DAS BARRIGAS

Se o cantar matasse a fome,
que é um mal vulgarizado
neste nosso dia-a-dia...
com o mal que nos consome
este nosso Portugal
já se tinha transformado
no palco da cantoria.
Pode bem ser, por sinal,
que neste quadro atual,
com barrigas a dar horas,
para espantarmos o mal
nos tornemos tal e qual
um bando de aves canoras.

Com a Troika a orientar
nós vamos cantar à rica
para ouvirmos a tripa
noite e dia a solfejar.
Como canção de embalar
que trará letras antigas,
árias velhas e cantigas.
E, poderemos esperar
não bom vinho, pão ou queijo,
não faltará é solfejo
da fome, pelas barrigas.

"QUEM CANTA, SEU MAL ESPANTA"
vai ser grande a cantoria
hora a hora, dia a dia,
porque a fome vai ser tanta
que a nossa pobre garganta
vai estoirar da melodia.
Por isso, o que já se augura
se a fome der em fartura,
em excesso, que, entretanto,
tornará o canto em pranto
e morreremos da cura.

Não esqueçamos o adágio
que vai ser remédio santo,
por mim, estou a fazer estágio
por já sentir um presságio:
a fome tornar-se canto.
Mas também tenho presente,
vou deixar que o tempo corra
para constatar certamente
que, mesmo que à fome morra
o povo como indigente
veremos naturalmente
uma pandilha indecente
a cantar à tripa forra!....

Matos Serra

3-º POEMA: QUANDO A VERDADE NOS MENTE

Quem canta, às vezes, coitado...
a fingir que anda contente,
sentindo-se contristado...
finge mal o que não sente,
com a verdade nos mente
tendo a tristeza presente
no cantar desafinado.

Nessa linguagem que canta
vemos a alma que chora.
A alma trai a garganta,
porque vemos, muito embora
na voz que a verdade espanta
a fingir de ave canora,
a alma que se quebranta.

"Quem canta, seu mal espanta"
até pode ser verdade...
mas, quando a tristeza é tanta
o cantar não persuade...
creio, até, que desencanta
essa tristeza que invade
a quem ouve e a quem canta.


Matos Serra

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