segunda-feira, 14 de novembro de 2011

BRISAS TRANSTAGANAS

A minha primeira infância foi passada no campo, neste chão do Alentejo ao norte, quero dizer, a plen-planície alto-alentejana, onde as brisas prepassam pela extensão da paisagem, soprando, em geral com suavidade,originando um movimento de ondulação sobre a superfície dos trigais, deixando, ao mesmo tempo, um sentimento de tranquilidade e uma musicalidade calma e repousante.
Ainda hoje sinto invadir-me a alma e transportar-me para os mares do sonho a recordação desses momentos mágicos vividos nessa comunhão plena com a natureza - a recordação dessa música das breves brisas da minha infância.
Por esse motivo tentei compôr um poema estruturado com base na nossa poética tradicional, do género daquela que eu ouvia aos antigos pastores convidados pelos meus pais nos serões de província à lareira do velho monte da minha infância perdida.
Para além de recorrer à nossa poética tradicional, tão genuína e fluente, assente nos artifícios da redondilha, fiz uso das aliterações com os sons das líquidas, das fricativas e das sibilantes que me trouxessem as sensações musicais das brisas da minha meninice e me envolvessem na terna frescura desses meus tempos passados.
Não tenho a certeza de ter conseguido alcançar os meus objetivos, mas lá que me senti transportado nas asas do tempo como se tivesse embarcado nas asas do vento, isso... eu não posso negar.
Então aí vai - é um poema com mote desenvolvido em estâncias de dez versos (Décimas tradicionais alentejanas)

MOTE
Belas... brandas brisas breves,
soprando soltas, serenas,
passam suaves e leves,
levam mágoas, lavam penas.

Alentejo! És passaporte
para recantos de encantos,
que me inspiras cantos, tantos!
Caro amparo, meu suporte
que tens forte vento norte,
mas... raramente te atreves
às mais leves frias neves!
São alentos os teus ventos,
bentos esses sopros lentos...
belas, brandas brisas breves!

Rutilantes, refulgentes...
teus montes... fontes de calma
que refrescam nossa alma
com brisas, lisas, fluentes...
Vão contentes e frementes
pequenas frentes amenas!
Melodiosas avenas
são como notas divinas...
sulcam leves as campinas
soprando soltas, serenas...

Branduras de breves brisas
tangendo o fio de teus rios
que se evolam nos estios
inconcisas, imprecisas...
suaves, soltas e lisas.
Notas leves, semi-breves
que tu 'screves e descreves
nas fontes, pontes ou ruas,
como silentes faluas
passam suaves e leves!

Frescuras de brisas puras
circulam nas tuas praças
e nas traças em que enlaças
tantas graças e ternuras...
São doçuras das planuras
cenas de amenas verbenas
em noites plenas...Pequenas
para tanta graça e poesia...
revoadas de alegria
levam mágoas, lavam penas!.....


Matos Serra

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